Luiz Holanda
Na metade do século XIII alguns cristãos viajavam a Roma para visitar os lugares considerados santos, quase sempre com o objetivo de expiar os pecados ou pagar algumas penas canônicas. Com o tempo, essas viagens passaram a ser conhecidas como “peregrinação”, e acabaram influenciando a criação das cruzadas para conquistar Jerusalém, que os cristãos consideravam uma cidade sagrada, governada por infiéis. A prefeitura de Salvador, que, segundo o PT, está nas mãos de um infiel, parece ser o lugar sagrado para uma intensa peregrinação do seu candidato, angustiado ante uma provável derrota nesse segundo turno. Tentando evitar o desastre, arregimentou empresários, sindicatos, políticos de todos os níveis e o próprio Lula, hoje transformado em cabo eleitoral.
Na falta de ideias e programas, partiu para as ofensas contra seu adversário, na certa imaginando que os ataques pessoais poderiam lhe dar alguns votos. O resultado das pesquisas demonstra o contrário, pois, em nossa capital, quem está na frente é o jovem deputado federal ACM Neto, que durante toda a campanha se preocupou apenas em apresentar propostas visando impulsionar o desenvolvimento de nossa cidade. Já seus adversários tentaram de tudo, inclusive a reedição das críticas contra o carlismo, esquecendo que foi justamente o velho líder, avô do candidato vitorioso, que implantou os primeiros projetos que levaram Salvador a ser um dos mais importantes pólos de desenvolvimento econômico do país. Em outras ocasiões os petistas, no desespero em que se encontram, chegaram às raias da insensatez, atacando até uma instituição como o Supremo Tribunal Federal-STF, revoltados com a condenação dos réus do mensalão.
Alucinados com uma provável perda de poder, chegaram a dizer que o julgamento era um golpe contra os trabalhadores praticado pelas elites. Daí a esperança de que o eleitor soteropolitano, encabrestado por Lula, percorra o deserto de novas ideias, conceitos e de alternativas de poder sem qualquer contestação. Não é sem razão, pois, que, nessa peregrinação, vale tudo, principalmente agora que Salvador, pelo que indicam as pesquisas, já tem o seu libertador. A vinda de Lula e de dona Dilma demonstrou isso, principalmente a da presidente, obrigada a deixar os seus afazeres para peregrinar por estas bandas em busca do paraíso perdido. Dizem que ela sofreu pressões até do seu protetor para tentar salvar o petista, agora bastante fragilizado diante de seu concorrente. E o pior de tudo é que ela - sem atentar para o respeito às normas do trato político e social-, fez declarações incompatíveis com o alto cargo que ocupa, pois ao afirmar que Salvador não podia ter um “governinho, um governo pequenininho”, externou clara alusão à estatura física do provável vencedor, esquecendo-se de que a verdadeira grandeza dos homens não está no tamanho do seu físico, mas sim no seu caráter, capaz de abrir caminhos para serem percorridos pelos que seguirem suas pegadas deixadas na areia do tempo.
Como dizia Eschenbach, “nem todo homem grande é grande homem”. Rui Barbosa, Getúlio Vargas e outros eram baixinhos, embora gigantes em suas ações, capazes de fazer seus semelhantes se sentirem tão grandes quanto eles. A dinâmica dessa campanha política parece estar do lado do candidato do DEM. A Pesquisa Ibope, divulgada nesta última sexta-feira, indica isso. Considerados apenas os votos válidos, ACM Neto teria 54%, enquanto o “peregrino” chegaria a 46%. Se, como tudo indica, a coisa continuar assim, a peregrinação de Lula e da presidente Dilma foi em vão, servindo apenas para pagar alguma dívida política, se é que isso seja pecado. De qualquer maneira, essas eleições marcam o início de uma nova era, pois Lula - o único líder real que o PT tem, começa a dar sinais de cansaço, tanto físico quanto político, já não sendo mais a “última esperança do Brasil”. A partir de agora começa uma nova caminhada, anunciando alguma luz no final do nebuloso túnel em que a corrupção do mensalão nos colocou.
Luiz Holanda é professor de Ética e de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da UCSAL.