Do cavalheirismo à autonomia

Publicado por: redação
18/02/2013 12:00 AM
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Por Breno Rosostolato*

O machismo é um fenômeno perpetuado na história através do conceito do sistema patriarcal, em que consiste na figura do homem a centralização de decisões, regras, padrões, normas, condutas e mentalidades. E é na forma de pensar que se estabelece o machismo. As imposições do opressor e a submissão do oprimido. Mas muitas mulheres sustentam e mantém o machismo. Enquanto houver diferenciações de educação entre meninos e meninas, censurar outra mulher por ela ter uma atitude mais sensual, mulheres acreditarem que dependem do homem para realizar determinadas atividades ou acharem que eles que devem pagar a conta, estão alicerçando o machismo. O cavalheirismo, por exemplo, é uma maneira sutil e disfarçada do machismo, pois é um conceito atrelado apenas aos homens. Todos devem ser gentis, cordatos, educados, cordiais e sociáveis, comportamentos que devem permear homens e mulheres.

O cavalheirismo nasce de uma questão de educação, bons modos e nobreza diante da mulher. Os gestos de cavalheirismos eram e são considerados importantes pelas mulheres como um requisito para um homem. Abrir a porta do carro, puxar a cadeira para ela se sentar, carregar as sacolas das compras, entre outras práticas, nada mais são do que atitudes de educação, gentileza e simpatia. Diga-se de passagem, atitudes que todos deveriam ter, como agradecer, pedir licença, dizer bom dia, boa tarde e boa noite, por favor, entre outras palavrinhas que são ”mágicas” e fazem uma grande diferença nas relações interpessoais.

O fato dos homens serem cavalheiros estava muito associado com o papel que ocupavam na sociedade. Fortes e soberanos deveriam ajudar as mulheres. Acontece que a gentileza não deve subjulgar o outro. Todos precisam de ajuda e não quer dizer que um homem que ajuda uma mulher a trocar o pneu é melhor do que ela. Inclusive, mulheres independentes e autônomas já mostram que os homens são dispensáveis quando se trata de ações corriqueiras e que antes acentuavam a fragilidade feminina.

O fato de as mulheres terem se inserido no mercado de trabalho fez com que elas vivessem sem ficar atreladas aos homens. Com o tempo se libertaram da aprovação masculina e hoje sabem exatamente o que querem. Fazem aquilo que desejam e dão vazão a suas vontades sem pedir permissão ao homem. Eles, por conta desta emancipação feminina, consideram não precisar mais ajudar a mulher, uma vez que elas estão no mesmo patamar. Antes era inadmissível a namorada pagar a conta do restaurante e hoje isso é espontâneo e visto como algo natural por homens e mulheres. Mas ainda existe muita resistência por parte deles.

O sexismo é o conjunto de ações que privilegia um sexo ou outro, ou seja, os gêneros se digladiam tentando manter-se onipotentes. A proposta é justamente contrária a este pensamento. Vivemos um momento social que requer cada vez mais igualdade entre os sexos e as pessoas precisam acreditar nisso. O tempo de servilismo das mulheres acabou da mesma maneira que o androcentrismo, ou seja, os privilégios masculinos não estão atrelados a um desmerecimento do lugar ocupado pelas mulheres.

As mulheres cada vez mais vêm impondo seus padrões de beleza, atitudes, linguagem, influenciando os homens. Não querem só um homem cavalheiro, mas um companheiro que saiba ser gentil e aceite a gentileza delas. Que deem ajuda, mas saibam receber ajuda. Não existe superioridade ou soberba em uma relação amorosa. Muitos homens não conseguem se doar ou romper paradigmas por ainda se considerarem hegemônicos e poderosos em relação às mulheres, pura fantasia que revela fragilidade e dificuldades de aceitação. Mas ainda muitas mulheres cultivam o machismo por achar que as decisões importantes devem ser tomadas pelo homem, que no casamento deve-se satisfazer o marido mesmo que a esposa não tenha vontade ou fazer sexo como retribuição por eles pagarem a conta. A propósito, as mulheres poderiam dividir a conta do motel e acabar com um tabu obsoleto. Estas segregações sexuais dificultam a adaptação às novas tendências e a revisão de opiniões, sucumbindo-se em severas limitações.

Devem-se rever os conceitos de educação com as crianças e educá-las para que meninos participem de atividades domésticas e meninas possam participar de atividades tidas masculinas sem restrições, como jogar bola por exemplo. Muitas mulheres abandonam suas carreiras profissionais para serem donas de casa ou consideram que felicidade e independência esteja vinculada ao casamento. Legitimar a autonomia é compreender que não existem papéis totalitários ou padrões inquestionáveis, mas a liberdade de ser você mesmo sem definições arbitrárias.

*Breno Rosostolato é psicólogo clínico, terapeuta sexual e professor da Faculdade Santa Marcelina - FASM

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