Co-parentalidade virtual, uma nova configuração familiar

Publicado por: redação
01/04/2013 10:57 PM
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Por Breno Rosostolato*

A web vem revolucionando a maneira das pessoas obterem informações sobre tudo e todos. A internet está não só propiciando formas muito particulares de relacionamentos, como vem criando novas reflexões sobre o mundo e o comportamento do ser humano. Estamos mais críticos e fiscalizamos com mais atenção, porque o acesso à informações está bem mais fácil. Os pensamentos se modificam e alicerçado a isso, as pessoas se permitem novas experiências, rompem tabus e estão fazendo escolhas antes inimagináveis. Amor e sexo são dois fenômenos sociais que não se baseiam no afeto ou só no prazer. São aspectos que requerem praticidade e mais desenvoltura. O sexo casual já é uma realidade, os desejos vividos com mais liberdade, a autonomia é a base das escolhas individuais e com isso, alguns conceitos e regras antigas necessitam ser atualizadas. Isso acontece, por exemplo, com a concepção dos filhos e a obrigatoriedade de um vínculo amoroso entre os pais, o casamento e a instituição familiar.

O casamento no século XII era visto como negócio. Era uma maneira das famílias ampliarem suas terras, enriquecer por conta do casamento dos filhos. Diga-se de passagem, o matrimônio só acontecia se os interesses financeiros mútuos dos pais dos noivos fossem concretizados. O amor não era um sentimento importante para fazer parte das relações amorosas nesta época. O casamento não possuía laço afetivo e o amor era compulsório. É com advento do amor romântico, uma relação romanceada, que se internaliza o conceito de exclusividade e, portanto, casar significa em viver ao lado do outro. Uma relação que implica em exclusividade, mas que gera também a noção de posse do companheiro. O amor experimentado nestas condições causa idealizações que, na maioria das vezes, não são correspondidas. Ao que tudo indica, a internet ajuda na reconfiguração das famílias e do casamento. Sites estão surgindo para promoverem parcerias de paternidade.

Sites como o “PollenTree.com”, “Coparents.com”, “Co-ParentMatch.com”, o “MyAlternativeFamily.com”, o “Modamily.com”, e o “Family by Design” surgem com o intuito de favorecer o encontro entre pessoas que procuram um novo tipo de arranjo familiar, mais conhecidos como "parceria de paternidade". Pessoas que querem ter filhos sem estabelecer vínculos amorosos, não buscam o amor, mas desejam acima de tudo serem pais. Enquanto alguns escolhem serem pais solteiros, para outros, a solidão é muito angustiante e não é positivo para elas ou para a criança. Veem nestes sites a possibilidade de apoio compartilhado para se ter e criar um filho. A busca por estes sites cresceram significativamente desde 2011 e é procurado tanto por heterossexuais como por homossexuais. A maioria dos participantes desses sites são mulheres, entre 30 e 45 anos, que decidiram primeiro investir na profissão para só mais tarde pensar em engravidar, mas homens também demonstram interesse nessa possibilidade.

O usuário precisa se cadastrar, cria um perfil e dizer como gostaria de criar um filho. Um outra pessoa, caso se interesse, inicia uma conversa e ambos decidem como vão engravidar, criar e educar esse filho. Quando a criança nasce, os pais têm sobre ele o poder familiar. Esta configuração familiar é conhecida como “Co-Parentalidade”. Desta maneira, duas pessoas podem compartilhar os cuidados e a educação de uma criança sem, necessariamente, estabelecerem vínculo amoroso ou ter que morar juntos. Existe uma família nestas condições e que se afasta da concepção tradicional. A co-parentalidade é uma forma antiga de se criar os filhos e abre também a possibilita para homossexuais que desejam ser pai ou mãe.

Os defensores da co-parentalidade através do vínculo entre os candidatos a pais em sites da internet defendem que a criança é a maior beneficiada. Pessoas que ponderam antecipadamente como querem e com quem ter um filho. Levando-se em conta que esta antecipação não prevê todas as implicações geradas por um relacionamento deste tipo, refletem a favor de uma organização que muitos casais tradicionais não possuem, pois, muitas vezes, o filho é fruto do imediatismo do casamento e das imposições sociais. Este formato de co-parentalidade seria uma alternativa menos constrangedora e conflituosa do que em casos da barriga de aluguel ou inseminação artificial.

Este filho deve ser atendido, acolhido e educado com a presença e participação destes pais e independe se eles moram juntos ou não, com vínculo afetivo ou não. A diferença desta configuração familiar em nada deve comprometer o desenvolvimento da criança. O desejo da maternidade e da paternidade deve ser o alicerce para a decisão de se ter um filho nas condições da co-parentalidade e que os dois precisam superar as dificuldades inerentes desta escolha.

* Breno Rosostolato é psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina – FASM

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