Pintando o setembro

Publicado por: redação
21/07/2014 12:31 AM
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Luiz Holanda

A decretação da prisão de Raymond Whelan, diretor da empresa Match, contratada pela FIFA para administrar a venda de ingressos para a Copa do Mundo, serviu para esclarecer ainda mais o esquema de corrupção montado para explorar esse evento. Naturalmente que as denúncias de enriquecimento de alguns são negadas, assim como Lula, em entrevista dada em Portugal, negou que os condenados no processo do mensalão, entre os quais os amigos José Dirceu e Genoíno, fossem gente de sua confiança. Daí não ser nenhuma surpresa a estratégia de se negar o superfaturamento das obras de reconstrução dos estádios, aeroportos e seus respectivos acessos.

Uma auditoria do Tribunal de Contas do Distrito Federal comprovou compras de materiais acima do valor de mercado, pagamentos de direitos trabalhistas além do previsto e aluguéis que resultaram num superfaturamento de R$ 10,7 milhões somente no estádio Mané Garrincha, de Brasília. Superfaturamentos iguais a este - ocorridos em outros estádios-, demonstram que o Brasil foi o maior gastador de dinheiro público em um Mundial de Futebol. Além disso, os troféus de corrupção, violência e criminalidade de nossa galeria foram estampados nos principais jornais do mundo.

Fazendo uma ligeira comparação com os gastos de outros países, temos que a Coréia do Sul e o Japão gastaram para o Mundial de 2002 o total de US$ 243, 5 milhões na construção de estádios, enquanto a Alemanha, quando foi sede do Mundial, desembolsou US$ 198,6 milhões para o mesmo fim. No total, os gastos de ambas as Copas não chegaram a 20% dos nossos, que, segundo estimativas, beiram aos R$ 40 bilhões. Em 2007, quando fomos escolhidos para sediar o evento, a estimativa de gastos era de US$ 1,1 bilhão, aproximadamente R$ 2,6 bilhões.

Considerando a explosão dos orçamentos programados, o governo teve de arcar com mais de 80% das despesas, sendo que metade diluiu-se nos superfaturamentos. O jornal inglês The Guardian criticou os gastos excessivos e os atrasos que atormentaram a realização dos jogos. Segundo esse periódico, só no Maracanã as reformas atingiram quase R$ 2 bilhões dos cofres públicos, e que, para chegar a essa quantia, tivemos de passar por uma das ”piores corrupções e burocracias”.

Para completar, bastaram 16 minutos de jogo entre Brasil e Alemanha para a Copa da Corrupção chegar ao fim. O sonho brasileiro de ser campeão terminou em choro, causado pela incompetência dos organizadores, de um técnico que só sabe se promover através de propagandas pagas e de uma mídia que não fez outra coisa senão endeusar inexperientes e desinteressados jogadores. No meio dessa confusão toda, sobressaiu-se a educação germânica, que mostrou ao mundo as belezas e a pobreza de Santa Cruz de Cabrália, e que, mesmo sem intenção, humilhou o Brasil dando alguma esmola aos seus moradores.

Não foi, portanto, nenhuma surpresa nossa presidente ser vaiada nas ocasiões em que compareceu aos estádios. Sempre que sua imagem surgia nos telões do Maracanã, as vaias explodiam, aumentando ainda mais o constrangimento das autoridades presentes. Ao lado de Angela Merkel, foi hostilizada cinco vezes pelo público que compareceu ao estádio. Acabrunhada e envergonhada, ficou com a taça nas mãos por apenas três segundos. Entregou-a logo ao capitão do time alemão, Philipp Lahm. Nesse instante, as vaias se transformaram num canto ofensivo à sua pessoa.

Para piorar a situação, quando anunciaram a sua presença, sua filha e o presidente da FIFA, Joseph Blatter se levantaram. Só ela, envergonhada, ficou sentada. Sua excelência sabe que o povo não desconhece que essa Copa e os acordos feitos, inclusive com mensaleiros, para ganhar alguns minutos de televisão em sua campanha para a reeleição representam a garantia da continuidade da corrupção. Daí ter ficado sentada durante quase todo o tempo, com medo da torcida carregar ainda mais nas vaias. Já os petistas acham que, assim como os alemães, o torcedor brasileiro pintou o sete em cima de sua candidata.

Luiz Holanda é advogado, professor universitário e conselheiro do Tribunal de ética da OAB/BA

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