Mais quatro anos: criatividade pode ser aliada nos períodos de incerteza

Publicado por: redação
03/11/2014 01:28 AM
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Por Marcos Morita
Passada a ressaca eleitoral, é hora de tirar a vassoura do armário e limpar a sujeira e os cacos oriundos de tantas acusações, denúncias e pancadarias, seja por parte dos candidatos ou de seus eleitores. Gostemos ou não do resultado, foram os brasileiros de Norte a Sul que assim o quiseram e fizeram. Infelizmente a frase do filósofo francês Joseph-Marie de Maistre: cada povo tem o governo que merece, cunhada há mais de duzentos anos, ainda encontra grande aplicabilidade no Brasil do Bolsa Família.
Os resultados de quatro anos mal geridos e agora a certeza de mais quatro de mais do mesmo, colocaram uma pá de cal naqueles que ansiavam por mudanças estruturais que colocassem o eterno país do futuro no caminho das nações desenvolvidas. A reação dos mercados: subida do dólar, queda da bolsa e o desmoronamento do preço das ações da Petrobras apenas corroboraram que cinquenta milhões de eleitores não estavam equivocados simultaneamente.
Empresários e executivos que aguardavam um melhor cenário para desengavetar planos de investimento, agora repensam como manter os resultados para o próximo ano, o qual indica crescimento pífio, inflação em alta, inadimplência e baixo índice de confiança por parte dos consumidores. Afinal, quem em sã consciência comprometeria grande parte de sua renda enquanto vê seus vizinhos, amigos, conhecidos e colegas de trabalho serem demitidos, apesar do discurso de que não há desemprego?
Como dependerão das economias guardadas e do eventual pacote de demissão para sobreviver, precisarão se preocupar com detalhes considerados pequenos burgueses pela outra metade dos eleitores, tais como: plano de saúde, escola particular e previdência privada, num país em que tudo funciona. Considerando o pessimismo previsto para 2015, precisarão fazer milagres com seu orçamento, haja vista não será tarefa nada fácil encontrar uma recolocação em tempos de vagas congeladas.
Não obstante os riscos de abrir um negócio próprio, destinando as economias de uma vida em algo que pode não dar certo, acredito que pequenos negócios de nicho, escaláveis, inovadores, com propostas de valor bem definidas e que utilizem o poder da rede e das redes, podem trazer bons resultados com um menor risco, seja para uma guinada na vida ou como renda complementar. Para exemplificar, trago uma pequena empresa aberta em Berlim, na Alemanha, por um casal de engenheiros desempregados.
O insight para o negócio surgiu de um problema banal e uma necessidade corriqueira do dia a dia, enfrentado por milhões de habitantes de grandes cidades: o cardápio do jantar. Com pouco tempo para ir ao supermercado e pensar em novas receitas, acabam repetindo os mesmos pratos ou pedindo uma opção pouco saudável por telefone. A proposta de valor do casal alemão foi oferecer algo prático e saudável, utilizando alimentos orgânicos produzidos localmente, agregando valor ao produto.
Como adendo, creio que valha a pena mencionar que tinham a culinária como hobby, o que ajudou e facilitou em muito a empreitada, já que puderam colocar em prática a fórmula mágica de Chris Guillebeau, autor do livro A Startup de $100: paixão ou habilidade + utilidade = sucesso. Complementando a equação utilizo outro conceito apregoado por Chris como convergência, ou seja, a intersecção entre a sua paixão e o que interessa aos outros, essência da proposta de valor mencionada.
Começaram pequeno, oferecendo o serviço inovador através das redes sociais, anotando, preparando e entregando as sacolas recicláveis com a receita e os ingredientes suficientes para a porção encomendada. Vale salientar que o contato com os clientes proporcionava a oportunidade de explicarem o conceito e a pegada sustentável, além de obterem feedbacks para as melhorias contínuas no produto e no serviço, característica da metodologia conhecida como Lean Startup ou Startup Enxuta, de Eric Ries.
Ries aconselha aos empreendedores não desperdiçarem tempo na construção de planos de negócios mirabolantes, os quais em geral sucumbem ao primeiro contato com a realidade. Ao contrário, sugere que hipóteses sejam criadas e testadas através de produtos mínimos viáveis, protótipos com características suficientes para avaliação dos clientes, as quais serão utilizadas para melhorias incrementais ou mudanças mais radicais no modelo de negócios, repetindo-se o ciclo e aprendendo com as falhas.
Com o aumento da demanda, gerado pelo boca a boca dos amigos, comentários nas redes sociais e um prêmio nacional de negócio inovador, pensam agora em aumentar a empresa, investindo em novas receitas, criando uma plataforma para os pedidos, parcerias para entregas e eventuais ações promocionais, escalando seu negócio para um novo patamar. Tudo em seu devido tempo, para quem precisa equilibrar contas a pagar, desemprego, novo negócio e investimentos.
Enfim, saber se recusarão uma boa proposta de emprego no futuro é ainda incerto. Certo, porém, é a certeza de que conseguiram sobreviver a crise e ao desemprego, aliando suas habilidades e paixões em um negocio pequeno, escalável e inovador, não se deixando abater pelas circunstâncias. Caso ocorresse no Brasil, sugeriria que pelo menos um dos sócios continuasse no negócio, uma vez que prever o que ocorrerá na economia é algo muito mais difícil e complexo que pensar na receita do jantar.
Marcos Morita é mestre em administração de empresas e professor da FIA-USP e Universidade Mackenzie. Especialistas em estratégias empresariais, é palestrante e colunista. Há vinte anos atua como executivo em empresas multinacionais.

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