A atitude de reação do jogador Daniel Alves, vítima direta de racismo

Publicado por: redação
12/05/2015 07:47 AM
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A atitude de reação do jogador, vítima direta de ato de racismo, Daniel Alves e a adesão de outros jogadores e figuras públicas à campanha somos todos macacos, protagonizada por Neymar Jr., considerando os desafios do movimento negro diante das lutas antirracistas no Brasil

Durante uma partida do campeonato espanhol um torcedor atirou uma banana em direção ao jogador brasileiro Daniel Alves, em uma resposta irônica ao ato de racismo, o atleta, que é negro, comeu a banana. Vários outros jogadores de futebol e pessoas públicas brasileiras deram ressonância ao caso. Um em destaque: o jogador brasileiro Neymar, que criou uma campanha em rede nacional com os seguintes dizeres: “Somos Todos Macacos”.
Analisando-se o fato ocorrido, de forma crítica, perceber-se que o incidente ocorrido com o jogador de futebol brasileiro Daniel Alves, em 27 de abril de 2014, em um campo de futebol espanhol é um costume europeu.
O próprio Daniel Alves disse, no final da partida em que acontecera o incidente, consoante o site de notícias Uol (2014), que "estou há onze anos na Espanha, e há onze anos é igual... tem que rir desses atrasados."
Nesse viés, para eles (os europeus) é normal escravizar e preconceituar. Foi assim com a escravidão dos africanos, em que inventaram a “desculpa” de que os negros eram amaldiçoados e integrantes de uma raça inferior e que, por isso, deviam e mereciam ser escravizados, aviltados e explorados.
Esse caso com o jogador Daniel Alves chamou a atenção do mundo pelo fato que o mesmo jogar em um time de renome mundial, por isto vários outros jogadores e personalidade entraram na questão contra o racismo, a exemplo disso a campanha feita pelo jogador Neymar Jr. “somos todos macacos”, ele teve boa intenção ao defender o colega de profissão, e dizer que contra o racismo ou qualquer outra forma de discriminação.
Nesse direcionamento, importante destacar o que pensam os aurores Araújo, Barreto e Heiborn (2010):

“Racismo como um conjunto de ações, ideias, doutrinas e pensamentos que estabelece, justifica e legitima a dominação de um grupo racial sobre outro, pautado numa suposta superioridade do grupo dominador em relação aos dominados. Num regime em que prevalece uma lógica racista, os recursos da mais diversas ordens (econômicos, políticos e simbólicos) são distribuídos seguido a lógica desigual da hierarquia racial vigente”.
Nesse pensamento de dominação e exploração de uma suposta superioridade racial, cumpre lembrar que Daniel Alves também asseverou, em entrevista ao Site Globo Esportes (2014) que:

“O crescimento de um povo e das pessoas se vê pelas atitudes e não pelas palavras. Eu espero que isso possa gerar muito mais coisas e as pessoas se conscientizem de uma vez que somos todos iguais e temos todos o mesmo objetivo sem tentar causar danos às pessoas até porque somos todos iguais, somos todos humanos “.
Pensando em direção oposta à atitude de Daniel Alves, Belchior (2014), articulista da Revista Carta Capital, aduz que, como no provérbio africano que diz: “Cada um vê o sol do meio dia a partir da janela de sua casa”, Daniel Alvez enxergou a atitude racista da qual foi vítima de de um lugar diferenciado.
Diz o articulista:

“...Do lugar de onde Daniel fala, do estrelato esportivo, dos ganhos milionários, da vida feita na Europa, da titularidade na seleção brasileira de futebol, para ele, isso é o melhor – e mais confortável, a se fazer: ignorar e rir. Vamos fazer piada! Vamos olhar para esses idiotas racistas e dizer: sou rico, seu babaca! Sou famoso! Tenho 5 Ferraris, idiota! Pode jogar bananas à vontade! (BELCHIOR, 2014)”.
Este autor afirma, ainda, que para os jogadores de futebol racismo não é problema nem incômodo. Ele são ricos e este elemento econômico suaviza o efeito do racismo, embora não o anule. Nesse rumo, os racistas e as bananas prestam o serviço de lembrar a esses jogadores que eles são negros e que o dinheiro e a fama não os tornam (nem tornarão) brancos.
Nessa direção, realmente é plenamente factível dizer que Daniel Alves, Neymar, Dante, Balotelli (jogadores negros ou afrodescendentes) e outros tantos jogadores de alto nível e salários pouca chance terão de ser confundidos com um assaltante e de ficar presos alguns dias. Bem como, pouco provavelmente serão desaparecidos, depois de torturados e mortos. Apesar das bananas, dificilmente serão tratados como animais, ao buscarem vida digna como refugiados em algum país cordial, de franca democracia racial.
Quanto à adesão de outros jogadores e figuras públicas à campanha “somos todos macacos”, protagonizada por Neymar, segundo o Site Estadão – Esporte/Futebol (2014), o jogador Neymar foi um dos primeiros a se manifestar sobre o ocorrido com o jogador Daniel Alves. Afirma este periódico que Neymar, via redes sociais, propalou que “somo todos macacos, e daí?”. Diz o referido Site que Neymar disse também “...ser uma vergonha que em 2014 exista o preconceito. Tá na hora de agente dizer um chega pra isso...”.
Reynaldo Azevedo (2014), articulista da Revista Veja, afirmou, sobre o incidente, que tanto Daniel Alves quanto Neymar (o jogador que mais se manifestou sobre o acontecimento) estavam totalmente corretos em suas atitudes. Disse o comentarista político:
Esses rapazes, que não se querem pensadores profundos — são mesmo é bons de bola, graças a Deus —, são mais sábios do que alguns intelectuais do miolo mole. É claro que acho que manifestações racistas, quando flagradas, têm de ser punidas. Mas a histeria politicamente correta só alimenta os idiotas. O racismo tem, sim, de ser combatido. Mas, acima de tudo, tem de ser submetido ao ridículo (AZEVEDO, 2014)”.

Assim, na verdade o jogador Daniel Alves agiu da melhor forma possível quando comeu aquela banana, pois vivemos um período de extrema violência e poderíamos imaginar que um atleta de grande renome ao comer a banana provocasse a grande massa que ali estava, podendo vir ocorrer um grande tumulto. Por tanto, comer a banana foi uma grande atitude e amenizou a situação.
Nesse contexto da atitude de outros jogadores, principalmente o jogador Neymar, de erigir apoio ao jogador Daniel Alves, o grupo deste trabalho compactua com tal atitude apoiadora, porquanto, no que pertine aos desafios do movimento negro diante de lutas antirracistas, é interessante que diante de preconceitos, as vítimas se unam e busquem representar suas “classes”, a fim de lutar pelo reconhecimento do direito à igualdade , à equidade e a cidadania entre todas as “raças”.
Nesse pensamento, o movimento negro utiliza o termo raça como forma de expor a prática social do racismo. Há quem se oponha dizendo que ao falar de raça contribui-se para a racialização da sociedade brasileira, gerando confrontos entre brancos/as e negros/as. Essas questões foram amplamente debatidas pela mídia nacional nesse incidente ocorrido com os referidos jogadores.
Por fim, cumpre observar o que preceitua D'adesky (2001):

“O movimento negro exerce uma ação marcada, sobretudo por um discurso que reivindica o pleno reconhecimento da cidadania do negro, baseado na preservação e valorização das tradições culturais de origem africana, na reinterpretação da história e na denúncia de todos os fatores de desenraizamento e de alienação que atingem a população negra.

Tal movimento, em suas lutas, já obteve alguns avanços pela igualdade racial, mesmo que alguns com políticas compensatória. Descarremos algumas:

1. lei n. 12,288/10 Estatuto da Igualdade Racial;
2. lei n. 10,639/03 inclui da grade curricular básico, fundamental e médio a história e cultura afro-brasileira;
3. Lei de cotas raciais para ingresso na universidade;
4. Órgão gerenciador de políticas públicas voltado para o povo negra brasileiro, Secretaria Nacional de Igualdade Racial, entre outros ganhos sociais;

Portanto, percebe-se que, atualmente, os movimentos sociais estão em uma nova fase política. Estão além das reivindicações, não aceitando nenhuma ação que possa discriminar pessoas, seja por seu pertencimento étnico, seja por suas características físicas. Nesse prima, o incidente acontecido com os jogadores citados acima deve ser visto como relevante e integrante das práticas organizativas de combate ao racismo.
Assim, precisamos acreditar nessa nova geração, nesses novos educadores e dentro de nossas próprias casas no meio familiar para que aja mudação e todos sejam tratados como seres humanos independente de cor e raça.

 

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Leila; BARRETO, Andréia; HEILBOM, Maria Luíza. Gestão de Políticas em Gênero e Raça/GPP-Ger: Módulo III. Rio de Janeiro: CEPES, 2010.

CARTA CAPITAL. Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! Notícia. Disponível em: Acesso em: 13 dez. 2014.

D'ADESKY, J. Pluralismo Ético e Multiculturalismo: Racismos e anti-racismo no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas Editora, 2001,

ESTADÃO – ESPORTES FUTEBOL. Desabafo. Notícia. Disponível em: Acesso em: 13 dez. 2014.

GLOBO ESPORTES. Daniel Alves: Somos todos humanos. Notícia. Disponível em: Acesso em: 13 dez. 2014.

REVISTA VEJA. Aula de Daniel Alves e Neymar de combate ao racismo. Ou: também sou macaco! Notícia. Disponível em: Acesso em: 13 dez. 2014.

UOL ESPORTE4S: FUTEBOL. Daniel Alves ironiza ato racista e come banana jogada por torcida. Notícia. Disponível em:http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/espanhol/ultimas-noticias/2014/04/27/dani-alves-come-banana-racista-forca-2-gols-contra-e-ajuda-barca-a-virar.htm> Acesso em: 13 dez. 2014.

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