Relatório indica que administração pública buscou apenas gerenciar danos e não combateu pandemia

Publicado por: redação
17/03/2021 07:09 AM
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Pesquisadores da UFPR apresentam resultados de estudo baseado na análise de políticas públicas com impacto na Região Metropolitana de Curitiba


Pesquisadores da UFPR apresentam resultados de estudo baseado na análise de políticas públicas com impacto na Região Metropolitana de Curitiba
Um grupo de pesquisadores da UFPR lançou um relatório com os resultados de um estudo sobre as ações de gestores públicos frente à pandemia de covid-19, com foco na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). O resultado principal do documento é a conclusão de que as políticas implementadas em nível municipal, estadual e nacional não seguiram no sentido de combate à doença, mas apenas de gerenciamento de danos, evitando tomar medidas efetivas de distanciamento social e contrapartidas econômicas que permitissem às pessoas ficar em casa, buscando apenas se preparar para o impacto da doença, como a criação de novos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
O estudo foi coordenado pela pesquisadora Maria Tarcisa Bega e envolveu cerca de 25 pesquisadores ligados ao Grupo de Pesquisa e Extensão em Políticas Sociais e Desenvolvimento Urbano (PDUR) da UFPR e acontece no contexto do Observatório das Metrópoles que envolve outros grupos de pesquisa no país. O grupo acumula uma larga experiência no estudo de políticas públicas, iniciando suas atividades no ano de 2006 e estando registrado no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) desde 2010.
Bega explica que o estudo de políticas públicas envolve a pesquisa dos impactos diretos e indiretos de qualquer tipo de ação governamental. O foco do grupo são as políticas sociais que envolvem a área da seguridade, previdência e serviço social, além das áreas de saúde e educação. “O objetivo foi analisar o impacto da doença na produção de desigualdades que afetam a área da Região Metropolitana de Curitiba”, conta a pesquisadora.
Segundo a cientista, “não houve um enfrentamento à pandemia, mas sim uma espécie de gerenciamento de danos. Como nós chegamos a essa conclusão? Nós analisamos os dados, vimos como a doença estava se espalhando e quais ações públicas foram tomadas. A gente parte do pressuposto científico, definido pelos especialistas, que o único jeito que nós temos para minimizar, barrar ou controlar efetivamente uma doença altamente infecciosa, que se espalha pelas gotículas de saliva, é o distanciamento ampliado e bastante rígido”.
“Fica claro, a partir do grande pico de julho e agosto, que o Estado, e eu digo o Estado Nacional e também o Estadual e os poderes locais, ao invés de forçar um distanciamento maior, com as condições para que as pessoas sobrevivessem, óbvio, optaram por gerenciar a pandemia”, completou.
Relatório completo: https://drive.google.com/file/d/1cmfQgxidcGpA50bsWa_6VnUJW5V93NNg/view 
Veja a nota lançada pelos pesquisadores:
"Gerenciamento da pandemia do novo coronavírus na Região Metropolitana de Curitiba"
"Os maiores municípios da RMC encerraram o ano de 2020 com mais de 160 mil casos confirmados de Covid-19 e mais de 3 mil mortes causadas pela doença. Monitoramento do combate à pandemia na região revela a baixa testagem e a subnotificação como políticas, a partir das quais se construiu um quadro de estabilidade artificial, que mascarava a necessidade do endurecimento das medidas de isolamento social. Com base nesses dados irreais foi criado um sistema de bandeiras na capital Curitiba, que estabelecia critérios técnicos para definir o abrandamento ou enrijecimento das medidas de isolamento social e o funcionamento do comércio. A estratégia foi a de administrar os impactos da crise sanitária ao invés de enfrenta-la, que definimos como “gerenciamento da pandemia”. No lugar de evitar a transmissão do novo coronavírus, optou-se por fornecer lugar para tratamento dos doentes, trabalhando por meses a fio com o SUS no limite, mediante ampliação de leitos, ou seja, as políticas adotadas como o sistema de bandeiras visavam sobretudo preservar o sistema e sua capacidade de, continuadamente receber novos pacientes. Se a quantidade de leitos tivesse permanecido a mesma do início da pandemia (308 leitos), em dezembro quando se registrou o maior número de pacientes internados (597 leitos ocupados em 14 de dezembro), a demanda teria excedido em 93,83% a oferta de leitos. Em números absolutos, 289 pessoas ficariam sem encontrar uma vaga. Além disso, o poder público tinha conhecimento das altas taxas de letalidade entre os pacientes graves, cerca de 25%, e que estava expondo milhares de pacientes a risco de morte. Durante os meses de aparente estabilidade (entre setembro e outubro) a manutenção da estratégia de “gerenciamento” estabeleceu o que pode ser chamado de “novo normal”: “horário comercial pandêmico”; uso obrigatório de máscaras; picos de contaminação após feriados; mortes diárias por Covid-19. Todos estes esforços se justificavam para não fechar a economia, o maior objetivo dos gestores desde a confirmação dos primeiros casos, que se sobrepôs ao direito à saúde."

Anexos

  1. RELATÓRIO - DEZ MESES DE COVID-19 NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA: A PANDEMIA NO TERRITÓRIO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE MITIGAÇÃO DE DANOS EM 2020
 

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