A arma e o faz de conta

Publicado por: redação
06/10/2011 10:34 PM
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Quando a fantasia se confunde com a violência

A região do ABC, em São Paulo, foi recentemente abalada com um fato trágico envolvendo um jovem estudante e uma arma. O garoto, de apenas dez anos, atirou na professora do colégio onde estudava para, em seguida, disparar contra a própria cabeça. Ferida nas costas, a professora passa bem. Já o menino, morreu no mesmo dia. Como sempre, nesses e em quaisquer casos que envolvam violência entre jovens, procuram-se culpados para o ocorrido. Seja por meio do assédio moral entre os alunos e/ou professores – o bullying –, seja a partir de um possível comportamento violento que armas e jogos eletrônicos possam ter provocado.

“Quem dera nossas crianças e adolescentes que hoje empunham armas de verdade tivessem tido a chance de brincar. Em uma pesquisa realizada com os presos do Carandiru, 100% deles afirmaram não ter brincado com armas de brinquedo na infância”, afirma a psicanalista Ana Maria Rocha, do CPPL (www.cppl.com.br). “Retirar os brinquedos de seu lugar mágico e, portanto, inofensivo, dando-lhes um estatuto de realidade ao qual não pertencem, parece um lamentável e perigoso equívoco. Tomado fora dos princípios que regem a brincadeira, qualquer brinquedo pode ser perigoso, não apenas os revólveres”, ressalta.

“É exatamente porque uma criança experimenta, elabora e integra suas fantasias agressivas no espaço do jogo, que poderá lidar de forma saudável com sua força, sua potência e sua agressividade pela vida afora, sem embotá-la ou transformá-la em violência para si mesmo nem para os outros”, esclarece Ana Maria. “É um engano pensar que teremos uma sociedade menos violenta se as crianças deixarem de brincar com suas armas de brinquedo, que não matam nem machucam de verdade, mas são imprescindíveis quando se tem tantos dragões, inimigos, ladrões e bruxas a combater. Prova disso é que as crianças improvisam suas ‘armas’ com qualquer material disponível, valendo até as próprias mãos”, diz.

No que diz respeito a jogos eletrônicos, a profissional também se mostra assertiva: “A atenção especial deve acontecer não porque as crianças estejam brincando com esses jogos, mas se a qualidade das relações afetivas que ele estabelece é predominantemente de hostilidade, desconfiança ou medo. Com certeza, seria um sinal que algo não está bem com essa criança ou jovem”, afirma.

Ana Maira Rocha também ratifica o fato de que a agressividade faz parte da condição humana, e não é o mesmo que violência, nem é destrutiva.  “É muito importante que se faça esta distinção, pois não nos tornamos ‘pessoas do mal’ porque ficamos enraivecidos ou mesmo furiosos com quem nos provoca”, explica. Além disso, a psicanalista também reconhece que a comunicação é a melhor maneira de solucionar problemas e conter as ações violentas. “Com certeza, todos os seres humanos deveriam ter a chance de aprender a colocar em palavras sua raiva e não precisar sentir culpa por causa dela, nem tão pouco transformá-la em violência”. Por último, reconhece a psicanalista, que seria de nós sem nossas artes e brincadeiras onde, na fantasia, de forma protegida, podemos atirar o pau no gato?

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