O rei tudo pode
* Sylvia Romano
Mesmo vivendo numa democracia, tem horas que acredito que o nosso primeiro mandatário se acha um rei absoluto. Ele tudo pode, passa por cima do decoro e da liturgia do cargo visando única e exclusivamente sua vontade de eleger a sua preferida, que com certeza logo após a sua posse — o que espero não venha a ocorrer — irá mandar este déspota para o seu devido lugar, que é Garanhuns.
Lá esse senhor bem que poderia contratar o novo Calabar mineiro para ser o seu primeiro ministro, pois afinal Minas tem agora um segundo traidor famoso que mandou às favas o partido, em troca de sua vaidade pessoal, ou talvez, do rabo de saia de alguma miss cafona do interior.
Ando enojada com o que vem acontecendo, os escândalos afloram todos os dias e a plebe não percebe nada, acha que tudo anda muito bem, afinal agora ela tem geladeira e fogão a gás, como se isto fosse uma esmola do rei e, não, do próprio esforço de cada miserável. Este povo tão espoliado não enxerga um palmo à sua frente e não tem a capacidade de perceber a realidade que sua ignorância não permite. Eles não leem, não se interessam, não estudam e ficam felizes com as migalhas que caem do banquete real e que de certa forma permitem que continuem vivos, apesar do seu estado crônico de mendicância — condição esta que a sua própria preguiça mantém, pois a esmola permite e fornece a farinha de mandioca e a pinga diária, como acontecia na época da escravidão, ocasião na qual eram até mais valorizados por possuírem valor de revenda no mercado escravagista.
O povo ignorante e inculto provavelmente manterá para sempre essa realidade política de nosso país, já que para a ralé “pão e circo” é a droga oferecida pelos poderosos, droga barata e que garante a sua permanência no poder infinitamente.
Escândalos, denúncias, roubos e corrupção aparecem diariamente, mas nada abala o prestígio dos que mandam, afinal, os ignorantes eleitores brasileiros estão mesmo é preocupados com o futebol, as mulheres frutas, os reality shows e tudo aquilo cujo único objetivo é desviar a atenção e manter a manada na mais santa ignorância e alienação.
Pobre Brasil, que destino inglório o aguarda! Sairá um rei absoluto, porém se entrar a rainha ressentida, o que será de nós que ainda temos condições de nos indignarmos com tão vergonhosa realidade?
*Sylvia Romano é advogada trabalhista, responsável pelo Sylvia Romano Consultores Associados, em São Paulo. E-mail: sylviaromano@uol.com.br .