As relações trabalhistas politicamente incorretas entre Cinderela e Madastra

Publicado por: redação
13/08/2012 04:30 AM
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Segundo Esther Hamburguer, antropóloga, a novela Avenida Brasil põe o dedo na ferida de uma instituição estrutural na sociedade brasileira: a relação patroa/empregada. Pôr o dedo na ferida de uma instituição estrutural tão profunda em um país onde “empregadas têm empregadas, a carapuça sugerida no discurso de Nina provavelmente serve à maioria dos leitores ou dos telespectadores que conta ou contaram com empregados domésticos.”

Como diz a antropóloga, a graça não está na aniquilação da outra, mas na tensão permanente “destronada, de uniforme de empregada, cabelos cortados e tingidos de castanho, a personagem perde a força. Sem o comando dela, a família de Tufão também fica sem graça. Substituindo a patroa, Nina adota o figurino branco e sensual da inimiga, é mais classuda, mas não possui o mesmo magnetismo. Sua atuação é estridente”.

Na verdade, a classe média alta está vendo os emergentes se infiltrarem entre ela, ou entre os representantes dela e com revolta, pois quanto à lei, começam a aparecer no Senado vários projetos, inclusive aqueles que mandam que se pague obrigatoriamente o  Fundo de Garantia, que não se trabalha aos feriados, que se ponha limite de horas, enfim, uma série de regras, cuja aprovação já está por vir e que tirarão da relação patroa/empregada doméstica aquele algo bom que permitia uma série de coisas do tipo: “ver a novela juntas” e “dividir a receita do bolo de tarde”, chegando a beirar até a crueldade, pois quando as madames tiveram de ir trabalhar, com a independência da mulher, só faltou implorar para as domésticas esperarem até às 17 horas (e olha que era só até às 17 horas mesmo!), horário este impossível para a maioria das colaboradoras deixarem a empresa.

Foram substituídas, então, por creches e colégios de período integral de altíssimo nível, com preços estratosféricos e, no momento em que essas leis das domésticas forem aprovadas, como o Fundo de Garantia obrigatório, a “amiga” ou a figura boa dentro de casa vai desaparecer e todas se tornarão Ninas e Carminhas – inimigas das amigas.

Cuidado deve ter João Emanuel Carneiro com o exemplo que está dando, pois  não sabemos há quanto tempo essa raiva vem borbulhando agora nas patroas e não apenas nas empregadas. É um alerta, sim, para as patroas que andem com três facas pelo menos escondidas, já que não vamos dar tiro em ninguém, mas se a mania de Nina pega, nós antológicas vilãs que, em muitos casos não temos maridos, temos de estar ligadas...

*Sylvia Romano é advogada trabalhista, responsável pelo Sylvia Romano Consultores Associados, em São Paulo.

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