Doença mental ainda relega milhões ao isolamento

Publicado por: redação
29/03/2011 09:54 AM
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Doença mental ainda relega milhões ao isolamento

No livro Doença Mental, um tratamento possível, o psiquiatra Luis Altenfelder Silva Filho fala da importância da psicoterapia de grupo e do psicodrama no tratamento dos doentes.

As famílias brasileiras são reféns da falta de informação e de assistência para o tratamento dos doentes mentais. Condições mínimas pós-diagnóstico, como acesso a medicamentos e procedimentos dos cuidadores, tornam-se dificuldade sem igual quando existe um caso psiquiátrico na família. No Brasil, há, em média, 5 psiquiatras para cada 100 mil habitantes. Um número razoável se consideramos que há 1 psiquiatra para cada 83 mil pessoas na China. Mesmo assim uma pesquisa encomendada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) ao Ibope em 2007 revela que cerca de 1,3 milhão dos brasileiros que sofrem de transtornos mentais graves não têm acesso a tratamento médico adequado. O que fazer para mudar essa realidade?

Para o psiquiatra Luis Altenfelder Silva Filho, que acaba de lançar o livro Doença mental, um tratamento possível (304 p., R$ 71,90) pela Editora Ágora, é necessário ver e praticar a psiquiatria de outra maneira nos tempos atuais. A medicina sempre se preocupou com o tratamento dos distúrbios psíquicos. Algumas práticas realizadas na antiguidade eram absurdas e cruéis, mas representavam o único "saber" médico. Através dos tempos, o doente mental foi tratado conforme a cultura de cada época. Assim, desde a civilização egípcia até os dias de hoje, ele passou por inúmeras formas de tratamento, chegando a ser submetido a práticas como exorcismo, torturas, surras e, em casos extremos, foi queimado em fogueira.

No livro, o psiquiatra concentra conhecimento, crítica e pesquisa sobre o universo da psiquiatria e da terapia de grupo. Em linguagem objetiva e envolvente, ele traça um histórico do tratamento psiquiátrico - da Antiguidade aos dias de hoje -, discute as consequências do movimento de desospitalização, enfoca a psicoterapia grupal no tratamento de psicóticos e mostra os benefícios da aplicação do psicodrama com esses pacientes.

Fundamental para profissionais de saúde de todas as especialidades, principalmente da área psiquiátrica, a obra apresenta uma excelente resenha histórica do hospital psiquiátrico, da psicoterapia de grupo e do psicodrama. Oferece ainda elementos para instrumentalizar todos os que pretendem aplicar a técnica grupal ou psicodramática no atendimento a pacientes em enfermarias, ambulatórios e clínicas privadas. "O livro traz muitos subsídios e ajuda a aprofundar o tema, preenchendo uma lacuna na área", complementa o autor.

Com uma abordagem inédita sobre os distúrbios psíquicos e a psicoterapia de grupo, o autor mostra a aplicação do tratamento de forma global. Dividido em nove capítulos, o livro inclui temas como a sistematização do uso do psicodrama na enfermaria psiquiátrica, traz relatos de sessões de psicodrama com portadores de transtorno mental grave e mostra a integração entre a psicoterapia e a psicofarmacologia.

Na avaliação do autor, o homem só existe na relação com o outro, portanto, diz ele, o ser humano constitui-se como tal na interação, que determina o sujeito e suas relações. Para ele, o psicodrama ajuda a promover essa interação, restabelecendo o jogo saudável de papéis. Ele explica que, no grupo, o paciente pode adquirir senso crítico, corrigir comportamentos que lhe trazem problemas e também trabalhar conflitos que dão origem a relações transferenciais. Consequentemente, diz ele, melhora a percepção de si mesmo, do outro e do mundo que o circunda. "É um instrumento útil no auxílio de resolução de crises, assim como um método eficiente de psicoterapia", afirma o psiquiatra. Ajuda, segundo ele, de maneira significativa a compreensão e o alívio de sintomas, o que faz o indivíduo entendê-los e integrá-los em sua vida.

Ao longo da obra, o autor discute também as consequências do movimento de desospitalização, mostrando por meio de argumentação crítica outra maneira de ver e praticar a psiquiatria nos dias de hoje. Aborda a aplicação do psicodrama no tratamento dos psicóticos, com o relato de sessões no hospital psiquiátrico e no consultório, a partir de uma breve revisão da teoria psicodramática e da aplicação de suas técnicas.

Além dos quadros psicóticos clássicos, o autor aborda ainda o tratamento de distúrbios como ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, histeria e transtornos de personalidade. Apresenta as características desses quadros e como é feito o acompanhamento, tanto psicoterápico quanto medicamentoso. O psiquiatra fala também sobre a interação entre a medicação e a psicoterapia.

O autor

Luis Altenfelder Silva Filho é psiquiatra. Fez residência no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) e formação em psicodrama na Sociedade de Psicodrama de São Paulo (Sopsp). No Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) foi preceptor no programa de formação de residentes, e no Hospital das Clínicas trabalhou no Centro de Reabilitação e Hospital-Dia (CRHD), ajudando a reabilitar pacientes com comprometimentos psicossociais graves. Atua em consultório particular e é voluntário em hospitais, utilizando o psicodrama como instrumento psicoterápico. Escreveu inúmeros artigos em revistas especializadas e capítulos de livros. Entre suas obras estão Psiquiatria - Propostas, notas e comentários (Lemos, 1999, em coautoria com Carol Sonenreich e Giordano Estevão) e Fundamentos e prática em hospital-dia e reabilitação psicossocial (Atheneu, 2008, em coautoria com Sérgio Vieira Bettarello, Francisco Greco e Maria Cecília Fernandes Silva).

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