Você precisa ser demolidor

Publicado por: redação
29/12/2009 07:09 AM
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Você precisa ser demolidor


Do contrário, vai deixar tudo como está e não será ouvido nem respeitado

Dedicado a Paulo Garutti e Maria Tereza Penna, leitores que começam a entender o que é de fato a sociedade regida pelo capital.

Hoje em dia, temos a obrigação de ser demolidores. Do contrário, além de permitirmos que toda essa barbárie venha a acabar de vez com a vida no Planeta, não seremos ouvidos nem respeitados. Isto é, por não fazermos nada, transformamo-nos em seres invisíveis tal qual Pato Donald, como é visto por Luis Fernando Verissimo: ninguém entende o que falamos, não porque nos expressamos mal como Donald, mas porque ninguém registra nossa presença e, por isso, não nos ouve.

Mas não é só esta a razão que temos para ser demolidores. É também porque a sociedade que aí está --- regida pelo capital e que já salvou a humanidade da miséria com todo esse progresso até aqui --- entrou em fase de esgotamento. Irracional na origem, ela hoje mais concorre para a destruição da vida no Planeta, inclusive a humana, do que qualquer outra coisa. Basta ver o quanto um simples veículo devasta o meio ambiente (metais de todos os tipos, materiais plásticos etc.), além de poluir.

E há outro motivo essencial que nos leva a ser demolidores. Esta sociedade na qual vivemos assenta-se no roubo diário e em escala de força de trabalho. Quem trabalha dá sempre muito mais, em valores, a seu patrão do que recebe na forma de salário. Essa diferença entre o que o trabalhador põe no bolso do patrão e o que recebe de salário é sempre força de trabalho expropriada. E essa prática da expropriação, lamentavelmente, é sempre vista como normal e natural ou como “coisa da vida, que é assim mesmo, não tem mais jeito”.

Na verdade, o roubo de força de trabalho, processo que garante a conservação da vida regida pelo capital, não passa de violência e violação do direito mais sagrado do ser humano, que é o de trabalhar livremente para sobreviver: o trabalhador ganha apenas salário, que é truque e nunca o equivalente ao que ele produz. Até porque, se ganhasse o equivalente, não haveria lucro, que é sempre força de trabalho usurpada e não remunerada. Além disso, há outra violação de direito sagrado: o trabalhador nunca poder usufruir diretamente do produto final que resulta de seu trabalho.

Ao roubar força de trabalho assim, diariamente e em escala, o homem está erguendo um mundo em que ele é cada vez mais infeliz e destruidor do meio ambiente e da vida na Terra. Um mundo perverso e violento que traz novas e terríveis doenças, do câncer à depressão e à síndrome de pânico. Traz também a criminalidade que aí está, empurrada pelo narcotráfico, e tudo isso vem acabando gradualmente com a humanidade. Vivemos uma era de assassinato coletivo, ou melhor, um processo de autodestruição sem precedentes em nossa história e do qual a maioria esmagadora não tem consciência nem suspeita que existe. Nossos mais respeitados intelectuais, como Millôr Fernandes, não se deram conta disso ainda.

Como diz Michael Jackson, outro pobre demolidor a quem só poucos deram ouvido (ver This is It), a Terra está enferma. Se não fizermos nada já, a vida por aqui acabará, e iremos juntos. Ou seja, se não demolirmos minimamente, ou ao menos não tentarmos deter o que dá origem e alimenta essa degradação e destruição --- as forças do capital ---, sucumbiremos, e em menos tempo do que se imagina.

Se você é outro que não dá a menor pelota para isto que diz Michael Jackson, tente ver este clipe dele, proibido nos Estados Unidos, onde, dizem, há liberdade total e irrestrita. O link é http://www.youtube.com/watch?v=oJEqJ9yALx8 .

Mas é preciso, antes de tudo, entender muito bem o que é ser demolidor. Absolutamente, não é pegar em armas e sair por aí atirando nem derrubando as Torres Gêmeas ou seqüestrando celebridades, como faz o terrorismo. A luta armada e mesmo o terrorismo são extremamente úteis quando utilizados na hora certa, em causa correta. A humanidade já alcançou grandes conquistas pela luta armada e mesmo lançando mão do terrorismo, como, por exemplo, quando pôs fim ao nazismo. Mas, no momento, demolir o establishment, principalmente pela luta armada, é algo impensável (e inclusive burro) em qualquer circunstância.

É impensável porque os órgãos de segurança e as forças armadas das grandes potências estão hoje de prontidão, com sofisticada tecnologia para enfrentar o que der e vier e destruir com algumas balas aventuras como a de Che Guevara, demolidor a quem mais tenho admiração e respeito. E burra porque qualquer aventura como a das Farc com seus sequestros na Colômbia, por exemplo, além de não levar a nada, só concorre para sofisticar ainda mais a repressão contra esse tipo de ação. Por causa das Farc, talvez a América do Sul venha a ganhar uma base militar dos EUA.

Então, urge que você seja um demolidor. Jim Morrisson, outro demolidor de carteirinha, dizia que, se você não for um deles hoje em dia, é um bosta. E está cheio de intelectuais e celebridades, no Planeta, que se imaginam demolidores, mas não passam de bostas, porque conservadores alienados, leões-de-chácara do establishment Exemplos mais significativos: Arnaldo Jabor, Diogo Mainardi, Jô Soares, entre outros (Raul Seixas dizia com razão que, no Brasil, “falta cultura para cuspir na estrutura”).

Como ser, então, demolidor decente? Simplesmente, deixando-se guiar apenas pela razão e procurando demolir este mundo com inteligência e sabedoria, cada qual dentro de suas possibilidades. Antes, você precisa tomar ciência do que de fato rola na realidade e dos riscos que corremos se deixarmos tudo como está. Em seguida, dar sua parcela de contribuição para mudar o mundo, com o pouquinho ou o muito que pode fazer e oferecer.

É sua obrigação conscientizar-se para poder disseminar a consciência. Você pode ser um Michael Jackson quando ele alerta para a tragédia que se aproxima. Um Raul Seixas quando busca demolir a estrutura social em suas canções. Pode ser também um Jim Morrisson quando exige que sejamos todos demolidores. Ou um Luis Fernando Veríssimo quando nos mostra que podemos ser Pato Donald e ninguém nos dar ouvidos. Ou ainda como Jesus, que gritou ao mundo “somos todos irmãos” e pregou que a divisão de classes trouxe a cizânea e com ela não há mais salvação.

Enfim, você pode ser um autêntico demolidor apenas pondo seu grito para fora, seja de que forma for, na arte, no trabalho etc. Você sabe do que é capaz. Só não pode é ser omisso ou ficar em cima do muro nessa luta, sob pena de tornar crônico o conservadorismo do qual já estamos todos impregnados, transformando-o em vício abominável e difícil de ser corrigido. A palavra de ordem, no momento, é mudança, antes que tarde. Abraços a todos, Tom Capri.

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