É cada vez maior o número de denúncias de corrupção, desvio de conduta e ineficiência de juízes de todo o país

Publicado por: redação
19/02/2010 06:55 AM
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 Conselho Nacional de Justiça registra média mensal de 330 queixas contra magistrados por ineficiência e corrupção

BRASÍLIA. Por Carolina Brígido - É cada vez maior o número de denúncias de corrupção, desvio de conduta e ineficiência de juízes de todo o país. De janeiro a agosto de 2008, chegaram à corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) 1.696 denúncias contra magistrados - uma média de 212 novos processos disciplinares por mês. De setembro a dezembro, foram 990 novas denúncias, o que aumentou a média mensal para 330. Entre os novos casos, a maioria (441) reclamava de demora no julgamento de ações. Foram contabilizados ainda 267 pedidos de investigação contra juízes que teriam cometido atos de corrupção ou agido de forma incompatível com o cargo.

Todas as denúncias estão sendo investigadas e, se os magistrados forem considerados culpados, poderão ser punidos com uma simples advertência até a aposentadoria compulsória. Para um juiz perder o cargo de forma definitiva, sem direito à aposentadoria, deve ser condenado em um tribunal.

Os dados constam do relatório da gestão do ministro Gilson Dipp, corregedor nacional de Justiça e integrante do CNJ, que assumiu o cargo em setembro passado, em substituição ao ministro Cesar Asfor Rocha.

O número de juízes investigados no país é ainda maior do que os casos analisados pelo CNJ: muitas denúncias são encaminhadas diretamente às corregedorias estaduais, que funcionam nos tribunais locais, sem passar pelo conselho.

Entre os processos abertos no CNJ, está a investigação de eventuais desvios de conduta cometidos pelo presidente de um Tribunal de Justiça, dois desembargadores, um juiz e uma servidora. O grupo é acusado de crimes como fraude em concurso e venda de sentenças.

Outro caso recente é o de uma juíza do Nordeste. Ela encaminhou ao CNJ um pedido de revisão de uma decisão do Tribunal de Justiça de seu estado que a condenou à aposentadoria compulsória. A juíza está afastada de suas atividades, recebendo aposentadoria proporcional ao tempo de serviço. Ela teria demorado muito no julgamento de ações sem uma justificativa razoável para esse comportamento. Ela ainda teria cometido abuso de autoridade.

Segundo o relatório, o aumento das denúncias se deve à mudança de atuação da corregedoria. A partir de setembro, foram realizadas inspeções em varas e tribunais de estados que apresentavam discrepância em relação ao resto do país. A primeira delas foi feita em setembro na Bahia, onde havia 40.950 processos esquecidos em mesas de juízes há mais de cem dias. O texto de Dipp informa que mais da metade dos processos atrasados estava na Bahia. O dado refere-se a processos da primeira instância ainda não concluídos para julgamento. “O atraso pertinente aos atos judicial diversos de sentença corresponde a mais da metade de todo o atraso registrado no país (o total é de 60.110) em junho de 2008”.

Uma inspeção começa com uma audiência pública no local, onde os habitantes da cidade expõem as dificuldades que enfrentam no Judiciário. As reclamações são colhidas por juízes e servidores do CNJ, que encaminham os casos para investigação. As inspeções também foram feitas em cidades do Maranhão, do Pará e do Rio Grande do Sul. No Maranhão, foi detectado grande congestionamento nas varas de primeira instância. Em 2007, chegaram às varas 91.039 processos e apenas 39.095 foram julgados.

A próxima inspeção está marcada para o dia 12 de fevereiro em Manaus. Em dezembro, o CNJ abriu procedimento administrativo disciplinar para investigar desvios de conduta supostamente cometidos no Tribunal de Justiça do Amazonas.
AMB: população criou coragem para denunciar

BRASÍLIA. Por mais contraditório que pareça, as entidades que representam os juízes comemoram o aumento das denúncias. Para os presidentes da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), Mozart Valadares, e da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), Fernando Mattos, os números não mostram o crescimento da corrupção entre os juízes, mas uma sociedade com mais coragem de denunciar as irregularidades. Ambos consideram que o trabalho da Corregedoria fortalece o Judiciário.

- A sociedade está começando a se conscientizar de que tem que denunciar juízes corruptos que usam a magistratura para acobertar práticas criminosas. Isso é uma coisa muito boa. Agora, o juiz sabe que, se for constatada culpa, será punido - diz Valadares.

O presidente da Ajufe também elogia o efeito da atuação da corregedoria:

- Acho muito positivo o Judiciário querendo melhorar o serviço prestado para a sociedade. A corregedoria hoje é um canal de denúncia.

No entanto, Mattos afirma que muitos casos de processos que demoram para ser julgados não refletem displicência do magistrado. Ele pondera que a Justiça Federal sofre com pouca estrutura e poucos juízes em relação à quantidade de ações que chegam diariamente.

- Em alguns casos, o juiz não tem estrutura física para atender todas as demandas que chegam para ele. Na Justiça Federal, há um volume muito grande de processos e é comum o juiz não dar conta. O ideal é que tivesse mais juízes - opina.

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Fonte: http://www.eagora.org.br/arquivo/cresce-o-numero-de-denuncias-contra-juizes/

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