O brasileiro é pacífico?

Publicado por: redação
12/06/2012 08:50 AM
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LUIZ FLÁVIO GOMES (@professorLFG)*

Que bom seria, se fosse verdade! O povo brasileiro é o mais legal do mundo, consoante pesquisa realizada pela CNN (Cable News Network) e exibida com orgulho no site do Governo Federal (http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/01/27/povo-brasileiro-e-o-mais-legal-do-mundo-diz-pesquisa).

Essa pesquisa, no entanto, acabou sendo desacreditada por outra, realizada pelo Instituto Australiano "Institute for Economics and Peace", para verificar o nível de paz interna e externa dos países, levando-se em conta fatores como democracia, estabilidade, igualdade, bons índices educacionais e baixos índices de violência urbana. Num ranking de 153 nações, o Brasil ocupa o 74º lugar de “país mais pacífico do mundo”, ou seja, está longe de ser considerado um território tranquilo, onde se possa educar os filhos com segurança (Pesquisa na íntegra: http://www.visionofhumanity.org/wp-content/uploads/2011/05/2011-GPI-Results-Report-Final.pdf).

A crença de que o brasileiro é cordial e pacífico, na verdade, não passa de um mito, de uma falácia. Em 2010, 52.260 foram assassinadas intencionalmente (dolosamente), o que equivale a 27,3 mortes por 100 mil habitantes (ou 2,73 por 10 mil habitantes) (cf. www.ipclfg.com.br).

Em relação ao ano de 1980, o crescimento no número absoluto de mortes foi de 276%. Na taxa de homicídios por 100 mil habitantes o aumento foi de 133% (de 11,7 para 27,3). Matamos, hoje, dolosamente, muito mais que em 1980, mesmo levando em conta o crescimento da população nacional.  Comparando-se com o ano de 2000 temos o seguinte: houve aumento no número absoluto de 15,2%, enquanto a taxa de homicídios por 100 mil habitantes cresceu 2,2%.

Não existe nação sem um mito ou sem mitos que permeiam a “solidariedade coletiva”. O sentimento nacional de que “todos somos do mesmo país”, da mesma terra, do mesmo território, formando uma unidade, perpassa todas as nações. Aliás, sem sentimentos coletivos mais ou menos uniformes não se pode, a rigor, falar em nação, que expressa o compartilhamento de histórias comuns, de destinos convergentes.

Nós, brasileiros, como sublinha o sociólogo Jessé Souza, cultivamos o mito de que somos “o povo da alegria, do calor humano, da hospitalidade e do sexo”. Que somos o povo da “emocionalidade” e da “espontaneidade”, distante daqueles que se caracterizam pela racionalidade.

Na realidade, não é bem assim. No que diz respeito àqueles que são apenas corpos, ou seja, braços, pernas e anatomia, sem patrimônio cultural e social, já sabemos que são torturáveis, prisionáveis e mortáveis. Mas não é certo que matamos exclusivamente esses corpos “descartáveis” ou “excedentes”, consoante o atual modelo capitalista, que conta a massa por cabeças de consumidores. Também matamos, por exemplo, 11 mulheres por dia, sendo que 8 são assassinadas pelo marido ou ex-marido, noivo ou ex-noivo, namorado ou ex-namorado. Matamos os que estão próximos de nós, assim como eliminamos os outros (os desconhecidos, os excluídos, os marginalizados).

O Brasil, como se vê, no item respeito aos direitos humanos, ainda é um mero conglomerado de pessoas, não uma nação. É um mercado (6ª economia do mundo), não uma sociedade moderna. É um ajuntamento de gente, não de cidadãos. É ainda muita barbárie para pouca civilização!

*LFG – Jurista e cientista criminal. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes e co-diretor da LivroeNet. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Siga-me no facebook.com/professorLFG, no blogdolfg.com.br, no twitter: @professorLFG e no YouTube.com/professorLFG.

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