Stalking, a perseguição doentia

Publicado por: redação
31/07/2012 11:13 PM
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Breno Rosostolato*

A violência vem se disseminando de maneira alarmante no mundo, cujas bases são múltiplas e que se sustentam de maneira silenciosa e, a princípio, imperceptível. As agressões não se restringem ao patrimônio ou contra a integridade da vítima, mas principalmente aos alicerces psicológicos e emocionais, cujo comprometimento é muitas vezes irreparável. Os traumas de um assalto são fortes e destrutivos, mas o fato de lidar com uma situação real torna o malefício muitas vezes tratável a ponto de minimizar seus efeitos nocivos. A questão mais complicada é lidar com situações violentas ocultas e desconhecida à vítima.

Sem uma tradução apropriada para o português, stalking que significa literalmente caçada, espreita ou perseguição, é toda a vigilância exagerada feita de uma pessoa à outra. Um cerco que culmina, muitas vezes, em contatos indesejados. Uma violência que extrapola a intimidade da vítima, na qual o agressor pode ficar à espreita ou perseguir a vítima. Neste sentido, trataremos de stalking como perseguição e o stalker como o agressor obcecado. O stalker pode observar a vítima, como forma de coletar informações, seja acompanhando a sua rotina, seguindo de carro ou a pé, seja pela internet, meio muito comum a essa modalidade de violência contemporânea. Em outras situações, o stalker envia objetos indesejados como cartas ou cartões, com dizeres amorosos ou ofensivos até uma abordagem direta, o que resulta em ofensas e até mesmo para agredir a vítima.

O fenômeno não é novo. No final dos anos 80 criou-se esse termo para designar a perseguição insistente das celebridades. Em 1990, a Califórnia, nos Estados Unidos, aprovou como crime grave essa perseguição de fãs às celebridades. Outros países, como Canadá, Austrália e Reino Unido, já adotaram medidas punitivas para esse comportamento exagerado e muitas vezes violento, pois implica invasão de privacidade e uma imposição com o intuito de intimidar a vítima, no caso, a perseguição incessante. A gravidade do crime é mensurada diante do sentimento da vítima, pois o stalker, na maioria das vezes, não possui um objetivo determinado, dificultando a classificação do comportamento e sua graduação entre o aceitável e o violento.

O cyberstalking é uma modalidade dessa perseguição violenta, na qual o agressor coleta informações na internet sobre a vítima, o que facilita em muito seu trabalho, se valendo principalmente das redes sociais. Essa discussão é muito pertinente depois do advento da internet e em tempos em que privacidade é substituída por visibilidade e a vaidade e o narcisismo. Informações como endereço da residência, do trabalho, telefones e a divulgação de fotos permitem ao stalker aproximar-se da vítima. Muitas redes sociais ainda disponibilizam um recurso de geolocalização, um localizador de onde a pessoa está naquele momento com nome do lugar, endereço, telefones e um mapa detalhado do local. Embora muitas redes sociais possuam o recurso para não divulgar informações abertamente, restringindo aos amigos do usuário, sabe-se que a própria internet possui falhas e não é privada, haja vista as inúmeras invasões de hackers e perfis invadidos por vírus. O stalker, dependendo do grau de sua obsessão, fará de tudo para investigar a vida de quem ele quer perseguir.

O agressor possui como características duas possibilidades: o ativo e o passivo e independe de idade, etnia ou condição social. O que se sabe é que os homens possuem uma posição mais ativa, ou seja, geralmente é o stalker que segue a vítima fisicamente, vai até os seus locais de convívio e é mais ofensivo. As mulheres adotam uma posição mais passiva, o que pressupõe uma perseguição mais discreta, através da internet, e até mesmo contratam detetives particulares para seguir os passos da vítima. O stalker faz-se presente na vida da vítima, seja por uma atração, no caso de fã e artista, seja por um sentimento de rejeição, no caso de homens que não aceitam o término da relação, por exemplo.

Quanto à vítima, os problemas iniciais estão relacionados à dúvida, ou seja, não acredita no que está acontecendo e na atitude do agressor. Depois disso, ao se dar conta da violência sofrida, os agravantes emocionais e psicológicos são frustração, culpa, vergonha, insegurança, irritabilidade, problemas gastrointestinais, perda de interesse em atividades corriqueiras, sentimento violento para com o stalker, habilidade diminuída ao executar funções no trabalho ou na escola, bem como dificuldade em realizar tarefas diárias. Tais agravantes podem desencadear dificuldades no ato sexual, distúrbios do sono, fobias, ansiedade, isolamento, ataques de pânico, depressão e até mesmo sentimentos suicidas.

*Breno Rosostolato é professor de psicologia da Faculdade Santa Marcelina

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