A vilã agora é a imprensa

Publicado por: redação
16/11/2013 03:32 AM
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Luiz Holanda
Discursando no Senado, em comemoração aos 25 anos de promulgação de nossa Constituição, o ex-presidente Lula, contrariado com as denúncias de corrupção institucionalizada no governo desde quando assumiu a presidência, disse que a imprensa “avacalha a política”. No mesmo discurso, mudando tudo o que anteriormente dissera do seu atual aliado, José Sarney, enalteceu-o de tal maneira que o antigo “grileiro” passou a ser o baluarte da democracia, igualzinho a Ulysses Guimarães, o patriarca da Nova República. Em seguida, esquecendo seu passado sindicalista, foi almoçar com o senador Gim Argello (PTB-DF), que responde a vários processos e a um inquérito no STF por apropriação indébita, peculato, formação de quadrilha e corrupção passiva.
O senador Fernando Collor, amigo e confidente do líder petista, também foi convidado, mas não pôde comparecer. Tempos atrás, num programa de televisão, Lula disse que “o passado político de Collor era um passado tenebroso” e que Sarney era “grileiro no Estado do Maranhão”. Em 1987, num de seus rompantes, tachou o senador maranhense de “ladrão” e que “Adhemar de Barros e Maluf poderiam ser ladrões, mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da Nova República”, ou seja: José Sarney. Não contente com isso, afirmou que “Sarney é um impostor que chegou à Presidência da República assaltando o poder”. Recentemente, esquecendo tudo o que havia dito contra o senador maranhense, confessou, ao saudá-lo, que tinha a tranquilidade para dizer: “Sarney, eu nunca lhe ofendi”.
Ao se juntar ao maranhense na crítica contra a imprensa, Lula chancelou a mordaça imposta ao jornal “O Estado de São Paulo” pela Justiça, a pedido de Sarney, proibindo-o de publicar notícias sobre a investigação de sua família por tráfico de influência no Senado, durante o governo do PT. Membro da Academia Brasileira de Letras, Sarney sempre sentou nas cadeiras mais insuspeitas, embora sua vida pregressa esteja registrada em um dos mais importantes livros biográficos já publicados neste país: “Honoráveis Bandidos”, no qual é retratado como uma das figuras que, de tempos em tempos, “afrouxam as fibras do tecido social”.
A extensão do lodaçal que se vislumbra na onda de corrupção predatória e escancarada denunciada pela imprensa envolve todos os poderes da República, independentes e corruptos entre si. Segundo o ministro do STF, Luís Roberto Barroso - garantista da impunidade-, a corrupção é uma tradição no País, não importando a coloração partidária de quem ocupa o poder. Ao defender a mordaça na imprensa, Lula nada mais faz do que seguir à risca a vontade petista de censurá-la, tantas vezes manifestada por alguns dos seus líderes e por ele próprio pela necessidade de “um novo marco regulatório das comunicações”. Não é sem razão, pois, a fúria de sua sucessora com a prisão de um dos seus aliados pela Polícia Federal na operação que investigou o Ministério do turismo, ocupado pelo PMDB. Dona Dilma irritou-se com a prisão, bem como por não ter sido supostamente informada sobre a operação policial.
Fustigado por escândalos que brotam como cogumelos em todos os escalões da administração pública, o Judiciário também acha que a grande vilã é mesmo a imprensa. Daí a censura imposta à GAZETA DO POVO, do Paraná, impedindo-a de informar sobre investigações instauradas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra o presidente do Tribunal de Justiça daquele Estado, Clayton Camargo. Outros jornais também foram censurados, pelo mesmo motivo, em outros Estados. A constatação de que a censura, mesmo depois da derrubada da Lei de Imprensa da ditadura, continua a existir, é um fato. Só falta oficializá-la.

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