Um discurso Semelhante

Publicado por: redação
01/04/2010 10:26 PM
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Um discurso Semelhante 
Nos anos 70, a imprensa conservadora insistia no argumento de que o regime militar era ideologicamente de viés estatizante. Ainda lembro quando, certa vez, comprei um Jornal da Tarde cujo título afirmava em tom de crítica que o Brasil era praticamente um país socialista em função do grande número de estatais. Com efeito, já havia na época, por parte dos meios de comunicação e do pensamento liberal, sinais de que algo precisava ser feito para promover uma guinada privatista.
 
Na verdade, o Estado como indutor do desenvolvimento compunha o pensamento do regime da época e era bem-visto por grande parte da população, até porque foi matéria-prima do “milagre brasileiro”. Portanto, a grande discussão em si entre a esquerda e a direita era, naquele momento, a volta do regime democrático e a serviço de quem o Estado se prestava na época. Com a redemocratização do país, os governos Collor, Itamar e FHC promoveram a construção de um novo consenso contra o viés estatal e a favor do mercado e da privatização. Assim, no decorrer dos anos 90, o consenso nacional foi se tornando conservador, apregoando de forma incisiva uma política baseada no Estado mínimo.
 
Talvez a grande inovação deste ano eleitoral de 2010 seja nos depararmos com dois candidatos que, em sua origem ideológica, sempre souberam do devido papel do Estado como indutor do desenvolvimento. No amadurecimento de suas ideias, souberam considerar o papel restritivo da participação do Estado, dando lugar, em vários segmentos, à iniciativa privada - ou seja, tanto o eventual candidato José Serra quanto a candidata Dilma Rousseff possuem história de militância na esquerda, mas com visão atual e de vanguarda na real dimensão do papel do Estado no cenário econômico. 
 
Com base nisso, poderemos observar discursos semelhantes entre os candidatos e propostas afirmativas de cunho social, da participação de um Estado mais forte, que visam à continuidade do governo do atual presidente - políticas que emprestaram imensa popularidade a Lula. Talvez agora ambos candidatos, num revisionismo ponderado das vertentes socialistas de outrora, possam considerar de forma sensata os caminhos reais da inclusão social e do verdadeiro papel de um Estado saudável.

 
Fernando Rizzolo é advogado, pós-graduado em Direito Processual, mestrando em Direito Constitucional, Prof. do Curso de Pós Graduação em Direito da Universidade Paulista (UNIP). Participa como coordenador da Comissão de Direitos e Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção São Paulo, é membro efetivo da Comissão de Direito Humanos da OAB/SP, foi articulista colaborador da Agência Estado, e editor do Blog do Rizzolo - www.blogdorizzolo.com.br

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