Somos todos nanicos

Publicado por: redação
18/08/2014 09:47 AM
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Luiz Holanda

Depois que a chancelaria israelense nos tachou de “irrelevante” e “nanico”, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, reforçou a crítica àquele país pelo genocídio do povo palestino durante a ofensiva de Israel em Gaza. Antes, a presidente Dilma declarou que a invasão israelense teria sido “desproporcional”, o que levou nosso ministro das Relações Exteriores a considerar “inaceitável a escalada de violência entre Israel e Palestina”, além de condenar o excesso de força por parte do governo judeu.

Após o gesto diplomático brasileiro condenando a invasão, inclusive com a convocação do nosso embaixador em Tel Aviv para consulta sobre a morte indiscriminada de cidadãos palestinos, Israel respondeu duramente.

O comentário do governo de Benjamin Netanyahu foi no sentido de que nosso “comportamento nessa questão ilustra a razão por que esse gigante econômico e cultural permanece politicamente irrelevante”.

A reação de Netanyahu foi considerada “muito dura” pelo governo brasileiro. ”Radicalizada e racista”, segundo o escritor judeu Shlomo Sand, a sociedade israelense precisa que algum país lidere as negociações de paz entre palestinos e judeus sem o apoio incondicional dos Estados Unidos.

O problema é que, no nosso caso, somos tupiniquins demais para um empreendimento desse porte. O espetáculo dantesco do genocídio do povo palestino permite que muitos israelenses subam as montanhas em torno de gaza para assistir os bombardeios. Para eles, é deslumbrante testemunhar a matança indiscriminada de civis e crianças palestinas.

A reação brasileira a esse fato é pura retórica. Considerada “bem fraquinha” pelo ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, nossa presidente imaginou poder contestar um país que não obedece, sequer, os Estados Unidos, seu incondicional protetor. O Brasil, realmente, é um país cujo desenvolvimento econômico e social é bastante limitado, apresentando um alto grau de desigualdades sociais e um elevado nível de pobreza e miséria. É, realmente, irrelevante para ajudar em algo.

Mesmo assim, não cabe ao governo israelense nos humilhar. O mínimo que a presidente Dilma deveria fazer era suspender as relações diplomáticas com Israel até que ele se retratasse, além de iniciar conversações com os países vizinhos para, em conjunto, forçar Israel a aceitar um Estado Palestino independente, como quer a ONU, que, por sinal, é um organismo desrespeitado pelo governo judeu e por outros militarmente poderosos.

Israel acusa o Hamas de terrorista, esquecendo que em 22 de julho de 1946 o Irgun, organização sionista, explodiu o Hotel King David, em Jerusalém, matando uma centena de inocentes. Esse ataque foi organizado por Menachem Begin, que mais tarde foi primeiro ministro de Israel por duas vezes. Em 1995 a Câmara Municipal de Jerusalém decidiu dar o nome “GAL” a uma avenida, em honra a um dos colaboradores de Begin, Joshua Gal Goldschmidit.

Para a Inglaterra, esse atentado foi um ato terrorista praticado por Israel, comemorado em julho de 2006 por Benjamin Netanyahu por ocasião dos sessenta anos de seu acontecimento. Não se pode esquecer que todos os países do mundo obedecem a Israel. Não seria agora que o Brasil, um país corrupto e subdesenvolvido, fosse ouvido numa situação crítica como essa. Diante da desmoralização promovida pelo governo israelense, ou a presidente reage à altura, ou confirma que nós - governo e povo-, somos todos nanicos.

Luiz Holanda é advogado, professor universitário e conselheiro do Tribunal de Ética da OAB/BA.

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