Desafios no transporte aéreo

Publicado por: redação
24/10/2010 10:06 AM
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Desafios no transporte aéreo

Por Eduardo Pocetti*

Sem fazer muito esforço, podemos nos lembrar de problemas nos transportes aéreos do Brasil ocorridos há pouco tempo. No mais recente episódio, uma companhia aérea acabou cancelando inúmeros vôos e provocando grandes problemas a seus passageiros em razão da necessidade do cumprimento estrito da legislação que limita o número de horas de navegação permitido às tripulações que atuam em território nacional, o que restringiu as atividades do pessoal à disposição.

O cenário atual do setor aéreo nacional desperta grande preocupação, principalmente diante da crescente demanda por este tipo de modalidade de transporte em razão da inclusão de numeroso contingente de consumidores brasileiros antes financeiramente impossibilitados de pagar uma passagem de avião; do barateamento relativo dos tíquetes aéreos, também devido ao crescimento da procura, somado à redução de custos das companhias; e da futura demanda excepcional que será estimulada pelos dois grandes eventos esportivos internacionais que acontecerão em breve no Brasil (a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada do Rio de Janeiro em 2016).

Hoje, o transporte aéreo de passageiros é liderado por duas grandes companhias, ao atenderem mais de 80% da demanda por viagens no Brasil. Outras duas empresas de menor porte abocanham de aproximadamente 5% a 7% do market share cada uma. O restante do mercado é pulverizado entre operadoras entrantes ou empresas com atuação regional.  Analistas do setor consideram que a falta de concorrência no segmento é um dos principais fatores que provocam deficiências no atendimento no transporte aéreo nacional.

Por outro lado, a infraestrutura aeroportuária nacional é, sabidamente, deficitária. Grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, por exemplo, sofrem com terminais aéreos estrangulados, com demanda no limite (e em muitas ocasiões, acima) da capacidade instalada. O crescimento necessário do setor de aviação civil no Brasil demandará investimentos vultosos na melhoria e expansão dos aeroportos, dos sistemas de controle de tráfego aéreo e da gestão alinhada entre empresas operadoras, Infraero (que administra os terminais aéreos) e Anac (agência reguladora do setor).

O próprio governo, segundo o ministro da Defesa, Nelson Jobim, surpreendeu-se com o crescimento do setor de transportes aéreos brasileiro em 2010, que atingiu 27%, contra os 18% esperados. A Anac prevê, por exemplo, que durante a Copa do Mundo, evento que tem a duração de cerca de um mês, sejam agregados de 4 milhões a 5 milhões de passageiros ao sistema nacional. Atualmente, o fluxo de pessoas que utilizam os transportes aéreos em nosso país chega aos 130 milhões de passageiros ao ano.

Projetos para a expansão das infraestruturas do setor são inúmeros, e representam ótimas oportunidades de negócios para variados setores. O problema é que eles precisam ser viabilizados política, estrutural e economicamente a tempo de garantir um atendimento adequado à crescente demanda pelo transporte aéreo e à procura excepcional durante os dois grandes eventos esportivos em 2014 e 2016. O momento é de transição em razão das eleições gerais que serão definidas em 31 de outubro, e este é um elemento de incertezas. De qualquer forma, e independente das obras previstas para ampliar a capacidade de nossos aeroportos ou para a construção de novos terminais necessários à potencial expansão, é preciso que as empresas aéreas e as entidades gestoras do transporte aeroviário invistam pesadamente na formação, capacitação e contratação de pessoal, na ampliação das estruturas de controle aéreo e, principalmente, na otimização da gestão do setor para melhorar a operação e o atendimento ao público, que muitas vezes é desrespeitado em seus direitos como consumidores.

* Eduardo Pocetti é CEO da BDO no Brasil, firma-membro integrante da quinta maior rede do mundo em auditoria, tributos e advisory services.

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