A malufada de Lula

Publicado por: redação
03/07/2012 02:44 AM
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Luiz Holanda

A demonstração pública de arrependimento dada por Lula a Paulo Maluf pelas ofensas que contra o mesmo cometeu durante toda a sua vida, bem demonstra o pragmatismo irresponsável a que chegou o ex-presidente para se manter - mesmo que indiretamente-, no poder. Ao lançar Fernando Haddad candidato a prefeito da cidade de São Paulo, Lula não consultou ninguém, exceto seu amigo e guru José Dirceu, que o apoiou nessa jornada. Outros interessados foram relegados a segundo plano: Marta Suplicy e Aloísio Mercadante, melhores avaliados nas enquetes eleitorais. Ao ungir Haddad por critério exclusivamente pessoal, Lula bem que poderia dizer - parodiando Shakespeare-, que, entre tantos candidatos pobres, a margem de escolha é pequena. Bastava isso para que seus submissos liderados o seguissem, pois ele “elege até um poste”. O que ele não imaginava era o fraco desempenho do candidato, o que o levou a procurar o apoio de um adversário a quem chamava de “ladrão”, pondo em risco a própria sobrevivência política.

Ao se dirigir, humildemente, ao bunker malufista, o ex-presidente revelou um desequilíbrio sem precedente, dando, mais uma vez, prova de sua inconsistência e abalo em sua credibilidade. As acusações feitas ao seu antigo adversário caíram por terra diante desse gesto incoerente e constrangedor. Isolado e politicamente frágil, o líder petista se humilhou diante de seu antigo desafeto, de quem dizia, em 24 de julho de 1994, dois anos antes de se eleger presidente, que “O Maluf é que deveria estar atrás das grades e condenado à prisão perpétua por causa da roubalheira na prefeitura”. Este, por sua vez, o considerava um desocupado, andando pelo Brasil com emprego dado pelo PT e ganhando sem trabalhar. Essa simonia política para alavancar a candidatura do ungido proporcionou-lhe um meio de sacrificar o nome que conseguiu entre os seus contemporâneos.

Já para Maluf, conceder ao PT um minuto e meio no horário eleitoral significou a civilizada vendetta mostrada como uma contrapartida da vingança que os cínicos costumam praticar com outros –e consigo mesmos. A então candidata a vice na chapa da nova Dilma, a deputada federal Luiza Erundina, renunciou dizendo que Maluf “tira a credibilidade de quem está junto dele”. Logo depois, se arrependeu, mas já era tarde. O fato é que, a partir de agora, não será nenhuma novidade se a oposição trouxer à tona episódios que complicam a vida do ex-presidente, como, por exemplo, as denúncias de corrupção durante o seu governo, o valerioduto, as empresas do Lulinha, os sacadores do mensalão, os dólares de cuba, o dinheiro na cueca de petista e o pagamento de propina pela Construtora Delta a servidores públicos e para abastecer o caixa dois de campanhas eleitorais, o que a tornou um verdadeiro tabu na CPI do Cachoeira.

Também poderá ser explorado o escândalo dos aloprados, aquele que petistas foram presos quando se preparavam para comprar um falso dossiê contra políticos adversários.

A imprensa também denunciou que a diplomacia americana considerava a corrupção no governo Lula “generalizada e persistente”, atingindo todos os poderes. Tal fato foi revelado em uma carta enviada pelo então embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, ao procurador geral, Eric Holder, pouco tempo antes de nos visitar. Nessa carta, nosso Poder Judiciário foi considerado despreparado e disfuncional. Essas afirmações, que vinham sendo enviadas ao governo americano desde 2004, persistiram até o último período do seu segundo mandato, com a agravante de que o fenômeno não se limitaria aos três poderes. Segundo Shannon, toda a administração pública brasileira estava contaminada, atingindo nossas forças de ordem, prejudicadas por “falta de treinamento, rivalidades burocráticas, corrupção em algumas agências e uma força policial muito pequena para cobrir um país com 200 milhões de habitantes”. Diante disso, não é tão inusitada a malufada de Lula num país onde a prática política contraria a ética e onde os ódios antigos se constituem em lamentável servidão. E o pior de tudo é que o povo, ironizando essa esdrúxula aliança, anda dizendo que Maluf não deveria ter descido tanto.

FONTE:  Publicado no jornal Tribuna da Bahia em 03/07/2012. Luiz Holanda é professor de Ética Geral e Profissional e de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da UCSAL.

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